_ Muito triste tudo que eu venho passando aqui a cada jogo, a cada dia, e a cada denúncia minha vem aumentando [os ataques]. É muito triste isso, mas acredito também que não só eu, mas como todos os negros, que não só na Espanha, [mas] no mundo todo sofrem no dia a dia. O racismo verbal é minoria perto de tudo que os negros sofrem no mundo. Meu pai sempre teve dificuldade de trabalhar por ser negro. Uma escolha entre ele e um branco, sempre vão escolher um branco. É uma coisa muito difícil. Eu tenho lutado bastante por tudo que vem acontecendo comigo. Claro que é desgastante porque você também que [fazer tudo] sozinho. Eu já fiz tanta denúncia e ninguém é punido, nenhum clube é punido. E a cada dia que passa eu venho lutando por todas aquelas pessoas que vão vir, porque se fosse apenas por mim ou pela minha família, eu acredito que eu já teria desistido de tudo que eu venho lutando. A cada dia que eu vou pra casa eu fico mais triste.
Para o amistoso, a seleção lançou uma campanha contra o racismo, chamada “Uma só pele, uma só identidade”, o que torna tudo ainda mais simbólico para Vinícius. Essa será a primeira vez que o jogador entrará em campo jogando em casa, mas como visitante, com toda a Espanha torcendo contra. O atleta agradeceu o apoio dos companheiros jogadores e ressaltou a importância de ações como a da CBF.
– Agradeço a todos os jogadores da Espanha que sempre estão dando entrevista, me apoiando e fazendo de tudo para que a Espanha mude seu pensamento. Não só a Espanha, que em todo lugar tem muito racismo. Que a gente possa fazer tudo para diminuir cada vez […] Esempre peço que a FIFA, Conmebol, e UEFA possam fazer mais coisas, como a CBF está fazendo. [ A confederação] vem me ajudando para que possamos evoluir como ser humano. Que todos possam estudar um pouco sobre que todos os pretos passaram no passado, o que eu passo nem chega perto do que todas essas pessoas passaram e eu só quero lutar por todas as que eles que são pretos, pobres, que não podem entrar no mercado, que não podem fazer tudo o que eles querem de uma forma tranquila, que sempre vai ter alguém te julgando ou te acompanhando. Ja se passaram [situações de racismo estrutural] muitas vezes comigo, já se passaram [situações de racismo estrutural] muitas vezes com a minha família, e eu só quero que isso mude, pra que quando eu venho aqui na coletiva não preciso falar tantas vezes sobre isso.
Quando perguntado sobre a importância da luta anti racista na vida dele, Vini chorou e falou emocionado, afirmando ser maior do que seus objetivos individuais dentro do esporte.
_ No futebol tem muitas pessoas, tem tantos jogadores melhores do que eu, que já passaram por aqui e eu quero fazer que as pessoas mudem, possam evoluir, possam melhorar, e que possamos ter igualdade no futuro bem próximo, que possamos ter menos casos de racismo e que as pessoas negras possam ter uma vida normal, como todas as outras. Eu quero seguir lutando só por isso, porque se fosse, como eu falei antes, se fosse por mim eu já teria desistido, porque eu fico dentro de casa, ninguém vai me xingar, ninguém vai fazer nada comigo. Eu vou para os jogos com a cabeça centrada no jogo para que eu possa fazer o melhor para minha equipe e às vezes nem sempre é possível, então eu tenho que me concentrar muito todos os dias.
O jogador foi titular contra a Inglaterra, vencida por 1 a 0, e participou do gol da vitória, marcado por Endrick. Contra a Espanha, Vini deve repetir a titularidade. A partida será na próxima terça-feira (26), às 17h30. Depois da saída de Tite e da rápida passagem de Fernando Diniz, o momento é de renovação e de preparação para as eliminatórias da Copa do Mundo e para a Copa América.